sexta-feira, 19 de agosto de 2011



Incompleta.

Ela era como um livro. Um livro incompleto. Jamais saberiam suas dores, seus segredos. Faltavam-lhe páginas. Arrancaram uma por uma sem dó e nem piedade. Forçaram-na a ser um livro sem um inicio, a ser um livro apartir daquilo. E então ela se perdeu no meio de toda aquela confusão. O meio começou a ficar confuso. Uma história sem um começo, que final teria então? Os restos das páginas rasgadas ainda permaneciam presos a ela, insistindo em lembrá-la do quão dolorosamente pode se tornar difícil a palavra esquecer. Mas ela vai sobreviver. Ela encontrou o seu próprio mecanismo de sobrevivência, por mais louco que isso possa parecer. As lágrimas escorriam por toda sua face, borrando a maquiagem que antes fora tão impecável. Por algum motivo, tudo parecia sempre ir contra ela. A cabeça baixa, o coração batendo fracamente, quase sem vontade, sem sentido... sem força. A respiração era feita por pura obrigação. E por falar nisso, lá está ela novamente... Mais uma vez trancafiada no banheiro, deitada em um canto, sentindo o sangue escorrer por sua pele. Pode parecer um tanto doentio pra você, mas não é. Essa fora a única salvação que ela conseguiu ver. A dor física não era nada comparada a sua dor interna, ao que tanto lhe aflingia. Absolutamente nada. Os cortes que emolduravam seu corpo ainda ardem, mas a dor consegue ser tão reconfortante e ao mesmo tempo insignificante comparada à dor interna que ela sentia, fazendo com que ela nem se importasse. Ela só queria que a dor continuasse ali, consigo, pelo menos assim livrava-se um pouco da dor interna que tanto lhe incomodava. Era assim que ela conseguia esquecer. Era esse o seu mecanismo de fuga da dolorosa realidade. Todos os dias eram iguais... Correr para o banheiro, trancafiar-se, se auto-mutilar. Aquela sensação da pele sendo rasgada bem lentamente pela lâmina tornara-se o seu maior vicio. Era até meio engraçado... Uma garota se cortando por causa dos outros. Mas os cortes provocavam-lhe tanto... Prazer? Não, não é essa a palavra certa. Era... Alívio. A dor interna parecia se aliviar conforme ela se auto-mutilava. Era como se tirasse um peso de suas costas a cada corte em sua pele e se sentisse melhor a cada vez que sentia o sangue escorrer pela mesma. Essa era a prova mais ridícula de que ela era uma ninguém. Sim, ela era assim. Fora provado quando a pessoa que ela mais amava disse “ Você é a minha maior decepção.” Bastou apenas uma vez para fazer com que o mundo da garota desandasse ainda mais. Ninguém sabe como é lutar todos os dias por uma meta que nem é sua quando não se tem mais forças pra lutar, fazer de tudo para agradar, agir como esperavam e der repente... Tchan. Se sentir tão... Incompleta. Fora um baque tão fundo, que a fizera piorar de vez. Ela era frágil como uma rosa. Um simples toque poderia ter força o suficiente para despedaçá-la. Se matar seria uma boa saída, mas ela ainda tinha muito pela frente. E sim, ela já havia tentado, mas felizmente(ou infelizmente) a salvaram. Ela tinha medo de abandonar as pessoas que amava e deixar com que elas fossem para o mesmo caminho que ela havia ido. Não tinha orgulho dele. Maldito seja! Seus orbes analisaram todo seu corpo; corte por corte, sangue por sangue, cicatrizes por cicatrizes. Daqui a um tempo não haveria mais lugar que pudesse mutilar. E fora pensando nisso que levantou-se, caminhou até o espelhou e fitou-se bem fundo a figura que ali estava. Fitou o rosto da garota do espelho. Tão falsa, tão... hipócrita, tão... apenas tão. Levou a lâmina até o mesmo e iniciou o corte na bochecha, findando-o em sua boca. Sentiu o sangue escorrer e pode sentir o gosto do mesmo invadir seus lábios macios e frios. Ah, sim. Respirou profundamente. Abriu a porta e deparou-se com um dos autores de toda aquela dor. Ele a olhou assustada, como se ela fosse uma espécie de monstro, ou uma maníaca. Ah, sim. Estava cheia de cortes, sangue e ainda assim um belo sorriso estampado no rosto. Ele desviou o olhar e ela segurou sua face, fazendo-o fitá-la. Ela nada disse, apenas continuou a sorrir e ele sabia o que ela queria dizer com aquele sorriso.

Ei, vamos.

Olhe pra ela agora.

Diga se ela ainda parece perfeita pra você.

O-o que você fez? Ele perguntou e ela revirou os olhos, soltando com brutalidade a face do mesmo que antes era segurada por suas mãos. Ela nada respondeu, apenas sorriu e foi abraçada fortemente, como uma criança após ter sido machucada gravemente. Os cortes ainda ardiam um pouco, mas a dor agora era irrelevante. A garota apenas saiu dos braços dele e olhou seu braço: Imperfeita. Era isso que se encontrava estampado em sua pele. Um tanto... doentio? Talvez. Mas era assim que ela se sentia... Imperfeita. A verdade é que ela não queria ser perfeita, só não queria ser julgada pelo que era, pelo que houvera.

Nunca deixe que façam você se sentir assim... Você é perfeita, perfeita pra mim. Fora a ultima coisa que ela o ouvira dizer, antes de sorrir e apagar, mais uma vez. Inconsciente, mas ainda assim, perfeita, perfeita pra ele.

42 comentários:

  1. muito legal o seu


    http://portaldalinguainglesa.blogspot.com/2011/08/respondendo-aos-leitores-do-blog.html?spref=tw

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  2. "Vc é perfeita, perfeita pra mim."
    VC escreve encantadoramente bem. Vc quer sere escritora?
    http://oicarolina.wordpress.com

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  3. É uma tensão e um sofrimento bem grande o que ela está passando e você demonstrou isso muito bem com sua narração.
    A dor física, por mais desagradável que seja, ainda é passageira; enquanto que a dor emocional não passa. Entre esses dois males, ela escolheu o mais suportável.

    Ótimo texto. Parabéns.

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  4. Obrigada, Bruno. O seu também, rs. *-*

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  5. Own, muito obrigada, Cáah. Você também escreve muito bem, adorei seus textos. *-*
    E, bom... Na verdade sempre foi o meu sonho, mas acho que não escrevo bem o suficientemente para isso...

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  6. Espero mesmo ter demonstrado, seria muito hipócrita de minha parte se não fizesse isso com todo meu esforço, sabe? Afinal, ela em partes sou eu. rs
    E eu concordo. A dor física, por pior que seja, é imcomparável com a dor emocional. Sem dúvidas ela escolheu o mais suportável.
    Awn, obrigada. *-*

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  7. Muito bom, menina! gostei muito do contexto e tal, vc sabe transmitir muito bem o clima meio ''dark''

    Parabéns escritora! rs

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  8. Nossaa... muito profundo... É indiscutível o qunto podemos sofrer sem ter um arranhão... Estou seguindo já...
    Vem conhecer o meu blog tb e seguir se gostar;)
    http://anandices.blogspot.com

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  9. Obrigada, bebê.
    E você sabe, nasci meio "dark", então não é difícil pra mim. rs
    E obrigada, desenhista. ♥

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  10. Que bom que achou isso, Ananda. Espero que tenha gostado. E obrigada por seguir, flor.
    Ah, já estou seguindo. Gostei muito do seu blog. Adoro blogs de moda, rs. *-*

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  11. Apareci *--*
    Bjaao!!

    http://mini-fofoquinhas.blogspot.com/

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  12. que linda história, cara, eu me emocionei
    mto forte, intensa, impressionante envolvente
    sabe que frase o teu texto me lembrou?
    "faço de conta que sou levada pra ser levada em conta".
    parabéns, escrever isso ki vc escreveu é um grande talento.
    ah, e to seguindo :)

    [b]quer ganhar um seguidor?
    me segue, que eu te sigo!
    http://diariodagarotadevariasfaces.blogspot.com/

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  13. Que bom que gostou, flor. *-*
    É, essa frase se tornou uma filosofia de vida pra mim em uma época. rs
    E obrigada, flor. Você também tem um grande talento, adorei seu blog. E também estou seguindo. *-*

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  14. Lindo sua postagem, um texto original com ritmo e você com um talento admirável. O blog por si é lindo, as fotos preto e branco deram um destaque maior para seus textos e para o Design do blog. Parabéns!

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  15. EU AMEI, AMEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII ESTE BLOG! Este texto é lindo! Nossa, clarooo que to seguindo!
    E sempre virei aqui, este texto me lembra uma parte da minha vida sabe, uma fase nao muito boa... mas passou ou esta passando!
    SUCESSO MINHA LINDA.
    bj
    http://venturav.blogspot.com/

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  16. AAAAI q lindooo : "vc é perfeita pra mim".
    E tragico tb...
    baaah.. axo q nunca vou escutar uma coisa
    dessas :(
    http://oserenfermeira.blogspot.com/

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  17. Ui, Nathália, que agonia as imagens e o texto, a gente sangra um pouquinho tambem. Tem um quê de "Cisne negro". Mas não acredito que sangrando se possa ser perfeito para alguém, a não ser sangrando por dentro, com tantas e tantas aflições que é preciso transformar em doçuras. Para ser perfeito para alguém, é preciso, antes, saber cicatrizar. Não se tornar nem levar mais uma ferida. Levar cura, cuidado, solução. That's the priority. Beijos e sucesso, querida!

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  18. [Identited] Obrigada pelos elogios, mesmo. Eu mudei todo o designer e resolvi mudar também para fotos para dar mesmo um destaque maior para os textos. rs *-*

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  19. Awn, Ventura, que bom que gostou, flor. *-*
    Eu também adorei seu blog, estou até seguindo também. rs
    Espero mesmo e espero que goste dos outros textos que ainda estão por vir, flor. ^^
    É, eu sei bem como é... Ele também me lembra muito de uma parte da minha vida, não muito boa, mas que me fez crescer. E já passou. Espero que a sua tenha passado também. rs
    Obrigada, flor. Igualmente, beijinhos :*

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  20. Geicivane, é lindo mesmo. E garanto que quando encontrar a pessoa certa vai ouvir isso sempre, sempre e sempre. Não tenha dúvidas. *-*

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  21. Fernanda Duarte, a intenção foi essa. E, em partes, eu adoro tudo isso. Imagens e textos que transmitem agonia me prendem. Enfim. rs
    Ela já era perfeita pra ele, ele só queria que ela soubesse disso, simples. E ela soube. Às vezes uma ferida pode se tornar uma cura, depende de quais olhos é vista.
    Beijos e sucesso para ti também, flor!

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  22. Bom, sou muito corajosa. Se fosse em outras épocas, pode-se dizer que eu me mataria sem pensar duas vezes. Mas agora... Sei lá. Acho que não teria vontade, entende? Não por falta de coragem ou por medo, mas sim por não querer deixar quem eu amo na mão... Sabe? Tenho a chata mania de cuidar de quem eu amo e fazer de tudo para que não se entreguem pros caminhos errados, como eu já me entreguei uma vez. rs

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  23. Oi, Gláu, que bom que gostou. *-*
    Eu também adorei o seu, já sou uma das seguidoras faz um tempinho, enfim. rs
    Um ótimo final de semana para ti, beijinhos. :*

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  24. Adorei o texto, muito lindo, parabéns linda.

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  25. Adorei, muito bom!
    http://lollyoliver.wordpress.com

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  26. Paula Pacheco, que bom que gostou, flor. Obrigada. O seu blog é ótimo, está de parabéns também. *-*

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  27. Que bom que gostou, flor.
    Dei uma passadinha no seu blog, adorei, muito bom. *-*

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  28. Escreve suficientemente bem para ser uma boa escritora, quando eu li saí de onde estava para um novo lugar e só saí de lá quando terminou seu texto e amiga este é o segredo dos grandes escritores.
    Obrigada pela visita e já te sigo.

    http://ninabarroso.blogspot.com/

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  29. Awn, flor, muito obrigada, mesmo. *-*
    E não agradeça, eu que agradeço pela sua. E eu também já sigo e adoro seu blog... ^^

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  30. Oi, vim aqui te agredecer por estar seguindo meu blog. Seja muito bem vinda e fique a vontade para dar sua opinião.
    Também estou lhe seguindo e esperando pelo próximo post.
    Até!

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  31. Oi, obrigada por seguir. Igualmente, fique a vontade. Em breve o próximo post vai sair, espero que goste. Até, beijos. rs ^^

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  32. Perfect o Blog. ! s2

    www.mulhervirtual.blogspot.com

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  33. muito bom o blog, muito bom o texto
    parabens!!
    ^^

    http://ministerioartecomdeus.blogspot.com/

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  34. ei, belo blog.. estou seguindo teu blog, segue o meu de volta \o/

    www.foiporquerer.blogspot.com

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  35. Nossa, me identifiquei tanto com esse texto!

    http://dezesseisamargos.blogspot.com/

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  36. Seguindo vc, flor. Obrigada pela visita! Ficaria feliz se me seguir tbm, bjusss

    http://angelmartinss.blogspot.com/

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  37. Não sei se estou certa, mas achei bem sincero e até um pouco pessoal. Gosto disso, torna o texto mais profundo e significante!
    Adorei!

    Obrigada pela visita!

    =*

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  38. Obrigado por todos os elogios, é bom ver que gostaram, me deixa extremamente feliz. E sim, Talita Dantas, é bem pessoal... Novamente agradeço por todos os comentários. rs *-*

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