segunda-feira, 3 de julho de 2017

Then you decided purple just wasn't for you.







The first. Recordou-se daquele dia e dos primeiros sentimentos que ele lhe trouxe. Ainda que o atraso fosse rotineiro em sua vida, culpou a insegurança. Após o abandono de F, era a primeira vez que alguém lhe despertava algo. Sentiu-se bem, menos solitária. Acabou nutrindo algo além do esperado. Indagou-se se ele também se sentiria daquela forma, embora não levasse fé naquilo. Ele era bom demais. Jamais pensou que haveria uma recíproca. Então o medo de ser rejeitada começou a se alastrar. Talvez, se nunca tivesse ido, não estariam tão fodidos. Talvez. Jamais saberiam.

Assim que chegou na estação e o fitou, ela soube que aquilo seria um problema. Mas ainda assim, permitiu que ele entrasse em sua vida. E para a surpresa de ambos, algo floresceu. Mesmo diante de tantas diferenças, a paixão os envolveu. Ela o desejou por inteiro - corpo e alma. Ignorou cada defeito que pudesse incomodá-la. Riu. Chorou. Brincou. Amou. Foi amada.

Embora tentasse, não soube controlar as expectativas. Almejou demais. Queria que ele a salvasse, sem se preocupar do quão pesado aquilo poderia ser. Recusava-se a aceitar aquela distância. Ironicamente, de tanto querê-lo por perto, acabou afastando-o. E mesmo agora, amando-o o suficiente para deixá-lo ir, ela ainda o queria. Ainda acordava pela manhã desejando ver seu rosto. Ainda tocava-se desejando que ele o fizesse. Nem mesmo suas noites estavam libertas daquela presença tão assombrosa. Tornou-se um fantasma. 



The last. Respire. Tentou lembrar a si, enquanto o ar fugia de seus pulmões. O choro compulsivo durou o resto do dia. Permitiu que a dor transbordasse de dentro de si, deixando seus orbes marejados por lágrimas. Observou a porta por horas, esperançosa que ele retornasse. Mas isso não ocorreu. Ele se foi. Ainda tentou pateticamente trazê-lo de volta. Expôs tudo que havia em seu íntimo, mas já era tarde. Tudo o que eles haviam sido desapareceu, deixando apenas duas pessoas fragilizadas, repletas por inseguranças, que poderiam ser amenizadas se os dois se permitissem. 

Arrependeu-se amargamente de cada erro. Olhou por outro prisma, buscando por alguma solução... Mas não havia. Antes mesmo do término, a infelicidade pairou sobre a relação. Mesmo quando ele estava ao seu lado, sentia-o ausente. A única coisa que desejava era ter a presença do rapaz ao seu lado. Porém, ao invés disso, a solidão voltou a abraçá-la como uma velha amiga. E embora tentasse fazê-lo entender, era inútil. Não o culpava pelo fim, reconhecia as falhas. Mas enxergava também cada deslize que os levou até aquele momento.

Embora quisesse lutar para tê-lo de volta, finalmente notou que aquilo seria o melhor para ele. Recusou-se a magoá-lo novamente. Sabia que mesmo se fizesse algum esforço, os problemas permaneceriam. Então continuou seguindo o plano, fingiu que desejava aquilo, evitando reagir sobre a situação. Apenas desejou a felicidade do rapaz, ainda que colocasse a própria em risco para isso. Evitou pensar na dor que aquilo lhe traria, vivendo um dia de cada vez.




tumblr_misbkcIAGw1rsfu05o1_500.gif    Ele a fitou com aquele olhar vazio, ela sabia o que aquilo significava. “Corra!” Implorou para si, mas seu corpo parecia não compreender as próprias ordens. Paralisada. Permanecia da mesma forma há horas ─ encolhida no canto do banheiro, amedrontada. “Vá. Embora. Por. Favor.” Pediu a ele pela décima vez, mentalmente esgotada. A voz falhava, envolvida pela mágoa que transbordava em seu peito. As mãos permaneciam sobre a garganta, procurando algum vestígio de algo que ainda estivesse errado.

    O soco sobre sua traqueia havia sido tão forte que resultou em alguns instantes sem conseguir respirar ─ foi nesse momento que notou o quão sério aquilo havia ficado. Chorou de soluçar assim que o ar retornou para os seus pulmões, pensou que ali seria o fim (o que não pareceu uma ideia desagradável). Ele se abaixou de frente para ela, acariciando seus fios loiros. Cada toque fazia com que a angústia em seu peito disparasse. Os soluços se intensificaram com a proximidade do rapaz. Não o reconhecia mais. Em algum momento, o rapaz gentil transformou-se em um verdadeiro monstro. Ele a olhava sem entender. “Sinto muito. Você me forçou a fazer isso.” Justificava-se, culpando-a mais uma vez por não satisfazer suas expectativas. Recusava-se a aceitar tudo que estava acontecendo. Nunca havia feito nada que a fizesse merecer aquilo, seu único pecado foi amá-lo intensamente. E ainda o amava. Por de trás de toda aquela armadura e das provocações destiladas por sua língua afiada, ela o desejava, mesmo que jamais admitisse. Ela precisou se escolher dessa vez, antes que fosse tarde demais. 

    Almejava ser livre. E era. Como um pássaro selvagem, recusava qualquer tentativa de ser aprisionada em uma gaiola. Até que ele apareceu e roubou isso dela. Se apaixonou de maneira breve e intensa. Uma paixão infantil, resultado de uma exacerbada idealização. Ele foi o seu primeiro. O primeiro toque. O primeiro namorado. A primeira transa. Talvez por isso se incomodasse tanto ao ver o que ele havia se tornado - ou melhor, o que ele havia escondido tão bem por de trás daqueles orbes amendoados -. Entregar-se a alguém - de corpo e alma - e receber isso em troca fez com que uma fobia de relações amorosas viesse a tona. Passou a se auto sabotar, recusando-se a aceitar qualquer tentativa de se manter feliz. Aos poucos, o sentimento que jazia no peito dela começou a se desmanchar. Tentou se afastar do rapaz, em busca da própria felicidade. Porém, ele se recusou a aceitar o fim. Ainda que fosse tarde demais, pois a chama havia se apagado. 

terça-feira, 13 de dezembro de 2016



    Dissimulada. Deixou que ele entrasse, desatou as amarras. Abriu as pernas e as portas de sua vida. A imagem pueril foi desaparecendo. Fingiu não notar, tão bem quanto fingia gozar. Se contrai toda e se deita, fingindo exaustão, ainda que estivesse pronta para outra. E fingindo continua ali, enquanto vai deixando de estar. Os gemidos falsos abafam a distância das almas. A proximidade dos corpos já não lhe traz nenhuma sensação de paz ou conforto. Não há sentimentos. Tudo que lhe restou foi o resto. O resto do que já haviam sido. E do que se recusavam a ser. Insistiam naquele jogo, como se alguém fosse sair vitorioso.
    Pouco a pouco, o tesão abre espaço para que a mágoa entre. Sorrateira, ela faz do peito da moça sua nova morada. Os corpos se chocam violentamente. Brigam entre si, irritados pela lembrança do que já havia sido. Os antigos afagos, os beijos... A única coisa que restou foram os tapas. Daqueles dado de mão cheia, provocando um misto de gemido e dor. Não havia mais afeto. Ansiava por algum toque acompanhado de ternura. Embora o tesão ainda se fizesse presente. O desejo a consumia, abafado por toda aquela dor.
    E no meio daquele movimento de vai e vem, ela se foi. Agarrou-se nos trapos que restaram de si. Perdida, tentou se refazer. Quebrada, fingia estar nova. Renascendo das cinzas novamente, como uma fênix. Mas dessa vez renasceu gemendo, sendo invadida sem nenhuma ternura. E continuou ali, a espera de algo que nunca veio. Migalhas de afeição. Ao final, se aconchegava em seu peitoral, em uma tentativa frustrada de ignorar a distância. Insistente. Tentava derreter a frieza que o envolvia e falhava todas as vezes. Algumas pessoas eram mais intensas que outras. Discreta, deixou que os sentimentos transbordassem pelos olhos. Limpou os resquícios das lágrimas e voltou a mergulhar em toda aquela hipocrisia. Carpe noctem, ele lhe dizia. 
    Não havia vencedores. Era uma disputa desnecessária, sobre quem conseguia machucar mais o outro. Sentia um alívio ao enxergar a dor estampada na face do parceiro. Envolvia-se com alguém que a feria e gostava disso: pequena garotinha masoquistaA autoflagelação se tornou rotineira, uma espécie de passatempo. Os golpes desferidos em sua pele acobertavam as dores de seu peito. Castigando a casca para salvar o pouco que ainda havia ali dentro, se é que ainda havia alguma coisa.
    No final do dia, uma nova despedida era feita, embora soubesse que de nada adiantaria. Voltaria a hora que ele quisesse, como uma cachorrinha obediente. Dançaria conforme a música, se assim ele quisesse. Submissa a todo aquele desejo. Estava aprisionada, vivendo uma eterna relação de amor e ódio. E gostava disso.